Sat Nam!
Este é o último dos quatro artigos sobre Mantra, fruto das nossas
QUINTAS de MANTRA em 15 e 22 de fevereiro e 1º e 08 de março /18 no Har Rai.
Neste encontro, conversamos sobre o Shabad Guru. Shabad significa som que corta o ego, e Guru significa o professor que lhe conduz da escuridão (gu) para a luz (lu). O Som é para nós, portanto, um grande professor.
Mas qual a diferença entre o Mantra e o Shabad?
“Os mantras são extraídos dos shabad. Eles são como cápsulas do conhecimento. Mantra é uma fórmula vibracional que leva a mente a uma determinada frequência imprimindo afirmações e qualidades a ela. Shabad Guru é o som que corta as falsas identificações do ego, trazendo um ensinamento infinito e um conhecimento espiritual para a experiência cotidiana e real de nossas vidas.”*
O Shabad, além de uma estrutura mais complexa e extensa de versos, carrega uma altíssima frequência de som, que é capaz de limpar as visões restritas da realidade, os complexos mentais de inferioridade ou superioridade e os padrões de comportamento. Desse modo, a pessoa que pratica entoar o Shabad pode acessar sua própria Consciência, tendo mais clareza de si e da realidade, mais inteligência intuitiva, autonomia, equilíbrio emocional, bem-estar e compaixão.
A dinâmica do Shabad Guru “estimula o hipotálamo a modificar a química do cérebro. Isso ajusta a função do sistema nervoso e endócrino e fortalece o sistema imunológico.”*
A ressonância é a sintonização com uma determinada frequência. Com o Shabad Guru, essa ressonância é induzida pela respiração e pelo som para acessar frequências elevadas, fazendo vibrar as cavidades do corpo, os órgãos, as células e todos os sistemas sutis, gerando uma profunda mudança na consciência e estabelecendo novos padrões.
Ao persistir no Shabad, é estabelecida uma nova rota mental, permeada pela clareza dos pensamentos e pela real Identidade da pessoa, de modo que as capacidades internas são manifestadas (se adormecidas), ou fortalecidas (se já expressadas).
Existe uma diversidade enorme de Shabads, capazes de conectar você às mais variadas tonalidades da sua Consciência, e finalidades práticas da vida.
Na nossa experiência em Kundalini Yoga, o Shabad Dhan Dhan Ram Das Guru tem um lugar especial. Sempre é praticado por maior tempo no dia de Aniversário desse grande Professor da Compaixão e do Serviço, Guru Ram Das. As linhas sutis dessa composição acessam a frequência do Serviço, da Compaixão e é considerado o Shabad dos Milagres. No Har Rai, foi um belo milagre em 2017, quando fizemos por 40 dias seguidos uma Meditação com esse Shabad, para Remover o Medo do Futuro. Essa Sadhana de 40 dias reuniu Alunos, Visitantes, e Professores de diferentes centros de Kundalini Yoga.
Ao ouvir este Shabad, é difícil não visualizar a corte do Guru Ram Das, em plena expressão da Realeza do Yoga (Raj Yoga): diante da Sangat em meditação, os Ragis costurando as frequências de som, tecidas pelo coração dos devotos Balwant e Satta, no século XVI. Você confere a história desse Shabad logo abaixo, e depois, sua letra em Gurmukh, para que você possa praticar, e a tradução, para conhecer do significado dessas palavras.
A história do Shabad Dhan Dhan Ram Das Guru
Por Gurusangat Kaur Khalsa.
Guru Nanak foi acompanhado por um músico muito especial de origem muçulmana, Mardana, que cantou as composições do Guru por muitos e muitos anos. Depois da morte de Mardana, dois jovens talentosos músicos, Balwand e Satta, se tornaram os principais artistas da Corte do Guru. Eles serviram Guru Nanak e seu sucessor, Guru Angad, depois Guru Amar Das, Guru Ram Das e ainda o quinto Guru, Arjan.
A tradição ditava que os visitantes ao chegarem na corte do Guru para se sentar em sangat e meditar faziam uma prostração ao professor e uma oferenda. Baseado na qualidade dos músicos e o quanto eles proporcionavam e enriqueciam a experiência meditativa, os visitantes poderiam também fazer uma doação a eles como forma de retribuição.
Um dia, a neta de Satta decidiu se casar e ele não tinha dinheiro suficiente para o dote. Foi então que ele e Balwand pediram ao Guru Arjan dinheiro para o casamento. O dinheiro disponível foi dado aos músicos, mas para eles a quantia não fora suficiente. Eles ficaram muito chateados e se tornaram muito reativos e cheios de raiva. Ambos caíram no 3o estágio espiritual conhecido por “shakti pad”- os tempos de desafios grandes que testam nosso compromisso da alma e confrontam nosso ego.
Os músicos se convenceram que eles eram a razão pela qual as pessoas vinham à corte do Guru, e que eles eram mais importantes do que o próprio professor pois sem eles não havia Simran, a meditação. Foi então que eles tomaram a decisão de abandonar a corte do Guru. Embora tenham recebido pedidos do Guru Arjan para voltarem a tocar, eles nunca mais apareceram. Guru Arjan mandou primeiro, pessoas de sua confiança para solicitar que retornassem, mas eles continuaram irredutíveis. Foi então que o Guru decidiu ir pessoalmente lhes falar, e mesmo assim eles não mudaram de opinião. Os músicos começaram uma campanha de difamação dos Gurus, e aí Guru Arjan interveio. Segundo seu próprio relato, ele não se importava em ser o alvo da insolência dos músicos, mas não poderia permitir que o seu professor, Guru Ram Das e por extensão, todos os demais Gurus até o próprio Guru Nanak fossem alvo da calúnia. Foi assim que Guru Arjan decidiu anunciar que os músicos Satta e Balwand não mais seriam aceitos como músicos na sua corte e aqueles que sugerissem o contrário seriam punidos.
Por anos e anos, Balwand e Satta e outros Rababis (músicos) tocaram nas meditações e agora, na ausência deles, fora instituido a arte da música nas escolas e o próprio Guru Arjan passou a ensinar aos seus alunos a prática do Kauri Kriya, que envolve entoar as 19 notas musicais em estado meditativo. Uma nova cultura se criou com o tempo, onde a corte não mais dependia de músicos profissionais para sustentar a meditação. Instituiu-se os músicos voluntários (Ragis) para conduzir os Kirtans (sessões de cantos sagrados para meditação). O próprio Guru Arjan tornou-se um bom músico e construiu seu próprio instrumento, Sarinda, que ele tocava quando conduzia a sangat nas meditações.
Foi nesta época que Guru Arjan definiu a qualidade de cada Ragi deveria manifestar para servir:
(1) clareza mental e devoção à Deus,
(2) colocar o dinheiro em segundo plano,
(3) possuir as 5 virtudes: verdade, contentamento, fé, compaixão e paciência,
(4) servir livre de orgulho e hipocrisia,
(5) ter uma presença neutra, alegre e de paz,
(6) servir à sangat.
O fluxo de alunos foi se tornando intenso na corte do Guru para receber seu Darshan. A neta de Satta começou a dizer ao avô que ele e Balwand tinham cometido um erro grave ao sair da sangat como o fizeram. Eles começaram a entender que todo o episódio tinha sido um teste aos seus compromissos espirituais e, deram início a uma subsequente fase, preenchida por revelações e amadurecimento espiritual.
Neste estado mental e com forte desejo de estar novamente na presença do Guru, eles compuseram uma suíte espiritual chamada Balwand di Var, que denotava o quanto eles honravam e amavam os cinco Gurus que eles serviram. O shabd “Dhan Dhan Ram Das Gur” é parte desta composição.
Quando Balwand e Satta se viram na presença do Guru novamente, eles apresentaram essa canção, o que tocou profundamente o Guru Arjan. Em razão da qualidade deste shabd, Guru Arjan decidiu eterniza-lo no Adi Granth – uma compilação que ele fazia para dar corpo a expressões espirituais de diferentes tradições, na forma de poemas, que mais tarde ganhou o nome de Siri Guru Granth. Esta teria sido a primeira vez que uma composição de pessoas simples fora colocada no livro sagrado, em reconhecimento ao processo de transformação pessoal que serviria de legado para o futuro.
Este shabd é tocado diariamente por estes últimos 400 anos no Darbar Sahib (corte dourada ou Golden Temple) em Amritsar. Existem inúmeras histórias sobre o poder de recitação do Dhan Dhan e seus efeitos miraculosos quando estamos pessoalmente sob risco ou desesperançados. Siri Singh Sahib Yogi Bhajan foi o responsável por introduzir o Naad deste shabd em nossa prática de Kundalini Yoga, e por nos ensinar a entoa-lo reverentemente para recriarmos nosso sarovar – poço pessoal de bênçãos e esperança – onde poderemos mergulhar para uma limpeza profunda das falsas idealizações e amarras do ego.
Clique aqui para ouvir a versão de Pritpal Singh.
Shabad Dhan Dhan Ram das Guru:
Dhan Dhan Ram Das Gur jin siri-aa- tinai savaaria-aa
Pooree ho-ee Karaamaat Aap sirjanhaarai dhaari-aa
Sikhe atai sangatee Paarbrahm kar namasakaari-aa
Atal athaaho atoll too(n) Tayraa ant na paaraavaaru-aa
Jinee too(n) sayvu-aa bhaa-u kar Say tudh paar utari-aa
Lab lobh kamm krodh moho maar kadhay tudh saparvaari-aa
Dhaan so tayraa than hai sach tayraa paisakaari-aa
Nanak too lehnaa too(n) lehnaa too(n) hai Gur Amar too(n) veechaari-aa
Gur dithaa taan man saadhaari-aa
ਧੰਨ ਧੰਨ ਰਾਮਦਾਸ ਗੁਰ ਜਿਨਿ ਸਿਰਿਆ ਤਿਨ ਸਵਾਰਿਆ ॥
Abençoado, abençoado é o Guru Raam Daas; Aquele que o criou também o exaltou
ਪੂਰੀ ਹੋਈ ਕਰਾਮਾਤਿ ਆਪਿ ਸਿਰਜਣਹਾਰੈ ਧਾਰਿਆ ॥
Perfeito é o seu milagre; O Arquiteto do Universo, ele próprio o instalou no trono sagrado.
ਸਿਖੀ ਅਤ ਸੰਗਤੀ ਪਾਰਬ੍ਰਹਮ ਕਰਿ ਨਮਸਕਾਰਿਆ ॥
Seus alunos e toda a Sangat te reconhecem como o instrumento supremo divino.
ਅਟਲ ਅਥਾਹ ਅਤੋਲ ਤੂ ਤੇਰਾ ਅੰਤ ਨ ਪਾਰਾਵਾਰਿਆ ॥
Você é permanente, insondável e imensurável; Você não tem fim ou limite.
ਜਿਨ੍ੀ ਤ ਸੇਵਿਆ ਭਾਉ ਕਰਿ ਸੇ ਤੁਧ ਪਾਰਿ ਉਤਾਰਿਆ ॥
Aqueles que te servem são carregados em teu colo através das tormentas.
ਲਬੁ ਲੋਭ ਕਾਮੁ ਕ੍ਰੋਧ ਮੋਹ ਮਾਰਿ ਕਢੇ ਤੁਧ ਸਪਰਵਾਰਿਆ ॥ ਧੰਨ ਸੁ ਤੇਰਾ ਥਾਨੁ ਹੈ ਸਚੁ ਤੇਰਾ ਪੈਸਕਾਰਿਆ ॥
Abençoado é o seu lugar, e verdadeira é sua glória esplendorosa.
ਨਾਨਕੁ ਤੂ ਲਹਣਾ ਤੂਹ ਗੁਰ ਅਮਰ ਤੂ ਵੀਚਾਰਿਆ ॥
Você é Nanak, você é Angad, você é Amar Das; eu te reconheço.
ਗੁਰ ਡਿਠਾ ਤਾ ਮਨ ਸਾਧਾਰਿਆ ॥7॥
Quando eu vi o Guru, minha mente então se reconfortou e se consolou. ||7||
Que possamos permitir que a frequência do Shabad permaneça ressoando em nós,
e atuando através da nossa presença.
Sat Nam.
Agradecido,
Prem Bhagat Singh
Linda, auspiciosa, informativa e abençoada série de posts sobre os Sons!
Wahe Guru!
Wahe Guru Ji!